“Mudam-se os tempos, mundam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
Luís Vaz de Camões – “Mundam-se os Tempos”
________________________________________
INTRODUÇÃO
A Medicina, nas últimas décadas, estava a tornar-se cada vez mais tecnológica, o que poderia contribuir, se não estivessemos atentos, para a sua desumanização. No entanto, começou, quase simultaneamente, a verificar-se progressivo interesse por fenómenos psicológicos que possam intervir no desencadeamento de doenças somáticas. A avaliação predominantemente biológica da doença deu, deste modo, lugar à apreciação multicausal, em que passaram também a ser considerados factores de ordem psicológica e social.
Têm, necessariamente, que existir diferenças entre o modo de actuação profissional do médico, do agrónomo, do arquitecto, do advogado e, até, do veterinário, isto apenas para mencionar profissões de idêntico nível académico , mas com propósitos bem distintos entre elas. É necessário que os profissionais de saúde marquem bem essa diferença, durante as actividades que desempenham. Felizmente, para as pessoas tratadas por estes profissionais, grande parte deles pratica Medicina humanizada, que assenta no respeito, na atenção que dispensam aos seus doentes e na preocupação pelos seus "problemas" psicossociais. Eles prestam verdadeiros cuidados de saúde na medida do possível, em acompanhamento, muitas vezes, competente, personalizado, íntimo e, até diria, afectuoso. Embora, estejamos também conscientes de que existem dificuldades porque, nem sempre, esse apoio se faz em condições minimamente ideais, ou pelo menos satisfatórias.
Existe desorganização, ineficácia de gestão, falta de recursos humanos e de técnicas disponíveis. Há também formas desregradas de actuação, etc. Isto constitui "stress" profissional, fobias, angústias que, embora constituam estados afectivos da natureza humana, podem (até nos médicos que, de certo modo, sabem "lidar" com esses estados), ultrapassar o extremo, do que se considera, por exemplo, a ansiedade normal.
As intervenções que aqui vão ouvir, neste grupo de médicos competentes, treinados e educadores, vão ser de grande utilidade para todos nós. Embora sem formação profissionalizada, nesta temática, que muito me interessa, encontro-me incluida neste "grupo", porque, como cardiologista, observo muitos doentes psiquicamente afectados, por vezes, até mais do que, por existência de doença orgânica estabelecida. Somatizam os seus sintomas e procuram-nos por "neurose cardíaca". Têm sintomas multissistémicos em que sobressaiem os cárdio-respiratórios.
Todos nós os médicos, e/ou o restante pessoal das Consultas de Cuidados Primários, de Cardiologia, de Doenças Pulmonares, de Gastroenterologia, e de outras, temos que aprender "a lidar" apropriadamente com estes indivíduos e saber escutá-los, interrogá-los, avaliá-los, informá-los, tratá-los e/ou encaminhá-los.
Professora catedrática da F.M.L. Directora do Serviço de Cardiologia
Sem comentários:
Enviar um comentário